Para o presidente da CDL, Adelaido Vila, o não cumprimento dos acordos com os comerciantes agravou a situação. O prefeito Marquinhos Trad (PSD), que aposta na obra como principal vitrine em busca da reeleição, não cumpriu as promessas feitas aos lojistas. Inicialmente, a obra seria realizada de duas em duas quadras. O começo já travou o Centro, com frentes de trabalho em três locais.

O prefeito tinha prometido suspender as obras no período de chuvas. Não só manteve, como continuou ignorando os empresários.

Para não ficar apenas na estimativa, a CDL fez levantamento do número de lojas, empresas, indústrias e moradias no quadrilátero formado pelas avenidas Fernando Corrêa da Costa, Mato Grosso, Calógeras e Pedro Celestino.

Em abril do ano passado, o quadrilátero tinha 3.439 empresas, lojas e instituições financeiras. Neste mês, só 1.934 continuam em atividade. Em um ano, 1.505 empresas fecharam as portas e demitiram 7.525 empregados.

Adelaido Vila atribui o fechamento das empresas à crise econômica “grave” no ano passado, mas também as obras do Reviva Centro. Para o dirigente, o não cumprimento do acordo pelo município agravou as consequências. Ele enfatizou que o prefeito não se preocupou com as pessoas.

Adelaido Vila, da CDL, atribuiu o fechamento de empresas e desemprego ao não cumprimento de acordo pelo município (Foto: Divulgação)

“A situação é grava, tensa e preocupante”, alerta o presidente da CDL. Os 7,5 mil postos de trabalhado fechados não considera os 1,5 mil empresários que fecharam os estabelecimentos em decorrência da queda no movimento ou da falta de condições de continuar trabalhando. Um exemplo é o salão de beleza, que ficou sem água em decorrência das obras.

Além do fechamento de empresas e do desemprego, a obra vai custar caro aos cofres públicos, muito caro. Para ganhar a licitação, a Engepar reduziu o valor de R$ 58 milhões para R$ 49 milhões.

Repetindo uma estratégia comum nas licitações públicas, a empresa de Carlos Clementino espera o famoso aditivo de quase 25%. De acordo com o Correio do Estado, a Engepar espera acréscimo de R$ 12 milhões, o que elevará o custo final da projeto, por enquanto, para R$ 61 milhões.

Marquinhos defendeu o aditivo porque não estava previsto o trabalho noturno. No entanto, ele delegou o ônus da medida ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) pelo acréscimo de R$ 12 milhões.

O exemplo mais notório de termo aditivo foi o contrato emergencial, firmado sem licitação, com as empreiteiras contratadas para fazer o recapeamento no início da gestão de Trad. Elas foram contratadas por R$ 20 milhões, mas os valore sofreram aditivos de 25% em menos de cinco meses.

Setor Abril de 2018 Março de 2019 Variação
Inst. Financeiras 29 29
Serviços 1.971 1.143 -42%
Comércio 1.437 761 -47%
Indústria 2 1 -50%
Moradia e comércio 37 23 -39%
Público 4 4
Religioso 17 17
Residências 1.751 1.400 -20%
Terrenos 21 21
Total 5.269 3.370 -36,10%
Fonte: CDL

O Reviva Centro é obra importante, mas que pode agravar a crise no comércio. O projeto foi idealizado para ser mais amplo do que a revitalização da Rua 14 de Julho. No entanto, o único que saiu do papel é a eliminação de estacionamento e a redução do tráfego de veículos da via.

A Prefeitura já divulgou, mas ainda não começou as obras complementares, como a construção de moradias populares para manter o movimento no Centro.

A Orla Ferroviária deveria ser observada com carinho para se saber que a revitalização não basta. A Prefeitura gastou R$ 4,9 milhões na obra entre as avenidas Afonso Pena e Mato Grosso, mas não deu continuidade ao projeto. O resultado é catastrófico. Idealizados para serem locais gastronômicos e de encontro das famílias, os vagões se transformaram em moradia de viciados, bandidos e moradores de rua.

A obra prevista para criar opção de lazer se transformou em incentivo à marginalidade. Além de aumentar o medo, virou motivo para as famílias deixarem a região.

O Reviva Centro ainda não criou opções de estacionamento nem alternativas para incentivar a moradia no Centro. A pesquisa da CDL é um alerta e exige medidas para salvar o mais tradicional ponto do comércio na Capital.

É preciso planejamento para que a Engepar não seja a única a ganhar com as obras da revitalização da 14 de Julho.

Marquinhos confere obra de revitalização da 14 de Julho: vitrine da reeleição vai custar caro ao comércio na região central (Foto: Arquivo)